quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Começa a era do hambúrguer de proveta e do nugget de laboratório

Carne produzida em laboratório promete ser mais sustentável para o planeta

O pesquisador Mark Post mostra uma placa com as amostras do bife de laboratório
O pesquisador Mark Post mostra uma placa com as amostras do bife de laboratórioREUTERS
Cientistas desenvolvem novas receitas para satisfazer a crescente fome do mundo por carne. Carne cultivada – hambúrgueres e salsichas desenvolvidas em laboratório e não provenientes de gado – pode ser a resposta para alimentar um mundo cada vez mais populoso, salvar o meio ambiente e poupar a vida de milhões de animais, sustentam. Ainda demora um pouco para tal produção alcançar um padrão comercial e, dizem, não vai ser barato.
O primeiro laboratório para o cultivo de hambúrguer vai custar cerca de US$ 345 mil, segundo Mark Post, um biólogo vascular da Universidade de Maastricht, na Holanda, que espera inaugurar um espaço assim até setembro do ano que vem. Os especialistas dizem que é enorme o potencial da nova carne para salvar vidas de animais, sem falar em terra, água, energia e o próprio planeta.
_O primeiro laboratório será como que para provar o conceito, para mostrar que é possível – disse Post. _ Acredito que vou conseguir fazer isso no ano que vem.
À primeira vista pode parecer que os cientistas estão falando de algum tipo de produto que imita a carne, como proteínas vegetais, tipo soja, usada por vegetarianos. Mas não se trata disso. Carne cultivada in vitro é um produto animal real. A única diferença é que ela nunca fez parte de um animal completo, vivo.
É preciso juntar três mil tiras de carne de proveta para fazer um filé. Por enquanto, é um luxo caro
Tirando células-tronco de animais abatidos, cientistas as cultivam em laboratório com açúcares, aminoácidos, lipídios, minerais e outros nutrientes, até obter pedaços de carne. Até agora, eles já conseguiram produzir tiras (do tipo músculo) meio pálidas, cada uma com 2,5 centímetros de comprimento, menos de um centímetro de largura e tão finas que são quase transparentes. Entretanto, se juntarmos cerca de 3 mil dessas tiras, juntamente com algumas outras de gordura feitas em laboratório, teremos o primeiro hambúrguer cultivado da História, diz o cientista.
Este primeiro hambúrguer será criado em um laboratório acadêmico, por estudantes altamente treinados _ explicou Post. _ É praticamente manufaturado, demanda um trabalho intenso e, por isso, é muito caro.
Sem falar que é um pouco sem graça. Como a carne in vitro não contém sangue, ela é meio pálida, ele explica.
Especialista em bioética da Universidade de Linkoping, na Suécia, Stellan Welin diz que a ideia de cultivar carne em laboratório não é necessariamente menos atraente do que manter uma fazenda de produção em massa de gado de corte, onde hormônios e antibióticos são frequentemente usados para aumentar os lucros. A produção tradicional de carne também é notoriamente ineficiente. Para cada 15 gramas de carne para consumo são necessários cerca de 100 gramas de proteína vegetal para alimentar o animal, uma equação cada vez mais insustentável. Isso significa que encontrar novas formas de produzir carne é essencial se pretendemos alimentar a crescente demanda populacional do mundo, sustentou Welin.
_ É claro que você pode fazer isso se tornando vegetariano ou comendo menos carne – afirmou. _ Mas a tendência não parece ser essa. Com a carne cultivada, as pessoas poderão continuar comendo carne sem causar tantos danos.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a projeção é de que a produção anual de carne aumente de 218 milhões de toneladas entre 1997 e 1999 para 376 milhões de toneladas até 2030. Atualmente, o mundo conta 7 bilhões de habitantes e estimativas mostram que o número pode dobrar até o fim deste século.
_ A atual produção de carne não é sustentável – disse Post. _ Nem do ponto de vista ecológico, nem do ponto de vista de volume. Atualmente, estamos usando mais de 50% de todas as nossas terras agricultáveis para o gado. É matemática simples. Temos que ter alternativas.
Um relatório da Organização Mundial de Alimentos e Agricultura, da ONU, de 2006, mostra que a agricultura industrializada contribui, em escala maciça, para as mudanças climáticas, a poluição do ar, a degradação da terra, o desmatamento e o declínio da biodiversidade.
O mesmo relatório diz que a indústria de carne contribui com 18% das emissões de gases do efeito estufa e essa proporção deve aumentar à medida que consumidores nos países em desenvolvimento como China e Índia passem a comer mais carne.
Hanna Tuomisto, responsável por um estudo que comparou os impactos ambientais da produção de diferentes tipos de carne, como boi, carneiro, porco e carne cultivada, diz que o produto de laboratório tem bem menos impacto para o meio ambiente.
A análise, publicada na “Environmental Science and Technology journal” no começo deste ano, revelou que cultivar nossas carnes preferidas in vitro demandaria de 35% a 60% menos energia, emitiria de 80% a 95% menos gases do efeito estufa e usaria 98% menos terra do que as fazendas tradicionais.
Não estamos dizendo que podemos ou necessariamente queiramos substituir a produção convencional de carne pelo cultivo em laboratório neste momento – afirmou Tuomisto, da Unidade de Pesquisa em Conservação da Universidade de Oxford.
Mas, segundo ela, a carne cultivada “pode ser parte de uma solução para alimentar a crescente população mundial e, ao mesmo tempo, reduzir emissões e poupar energia e água”.
Os especialistas dizem que, num primeiro momento, será mais fácil cultivar carne em sua forma processada – como salsichas ou nuggets de frango. Mas cultivar carne que seja mais parecida com o produto real, como costeleta de porco ou bife, pode ser mais complexo e deve levar mais tempo para ser desenvolvido. Por enquanto, o maior desafio de Post e sua equipe é conseguir fazer com que a carne que ele começa a produzir fique mais apetitosa e saborosa.
Não é muito saborosa – disse Post. - Não se trata de algo trivial e precisa de mais trabalho.
Mas com o tipo certo de gordura e a quantidade apropriada, talvez com um pouco de sangue de laboratório para dar mais cor e ferro, Post está confiante de que chegará a seu objetivo. Ele espera também tornar a carne mais saudável.
A ideia é que, como agora estamos cultivando a carne em laboratório, podemos manipular algumas variáveis para produzir uma carne mais saudável.
fonte:globo.globo.com/ciencia
Carne produzida em laboratório promete ser mais sustentável para o planeta
fonte:
 http://oglobo.globo.com/ciencia/comeca-era-do-hamburguer-de-proveta-do-nugget-de-laboratorio-3208865#ixzz1dvkrYJU5 

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