terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Apreensões de aves aumentam 43%


Das 119 infrações registradas neste ano referentes à fauna, cerca de 90% são de aves silvestres criadas ilegalmente
Marcele Tonelli
A Polícia Militar Ambiental registrou 43% de aumento nos crimes envolvendo animais silvestres neste ano, na região de Bauru, em relação a 2010. Das 119 infrações registradas - contra 83 do período anterior -, cerca de 90% correspondem a ocorrências envolvendo pássaros que foram retirados de seu habitat para serem colocados em cativeiro e explorados como produtos no comércio ilegal.

“Temos observado que os delitos estão sendo praticados, principalmente, por aquelas pessoas que moram ao entorno da cidade, próximo às matas. Os casos mais costumeiros são aqueles em que pegamos o indivíduo caçando os animais com alçapão conectado a uma gaiola com outro pássaro dentro. Nessa armadilha, as aves nativas percebem a presença do pássaro preso e acabam sobrevoando o local, onde acabam sendo pegas pelo equipamento”, explica o capitão da Polícia Ambiental de Bauru, Nilson Fidélis.

Os maus tratos e jogos de azar com animais também entram na estatística relacionada ao aumento de crimes envolvendo a fauna. Das 119 infrações registradas em 2011, cerca de 20 correspondem a casos envolvendo as rinhas de galo, divulgados pelo Jornal da Cidade com grande frequência neste ano. Nesse tipo de delito os galos são equipados com esporas e colocados em pequenos espaços, onde começam a se mutilar até a morte.

Em 2010, o resultado dessas infrações à fauna totalizaram 83 casos. Apesar do número das ocorrências ter aumentado em 2011, o capitão Fidélis explica que a tendência é de estabilização.

“Antigamente, as apreensões anuais giravam em torno de 700 a 800 ocorrências. Há alguns anos apreendemos, somente em uma casa, 150 pássaros silvestres sem nenhum tipo de autorização. Tivemos que mobilizar uma equipe com caminhão para deslocar esses animais”, conta.



Redução de casos

Mesmo com a diminuição, Fidélis considera que os flagrantes envolvendo apreensões de pássaros silvestres em cativeiros são em sua maioria de grandes proporções na região. “Cada ocorrência registra em torno de 50 a 60 aves apreendidas”, ressalta.

Como tudo tem um preço, a captura dos pássaros acabou aliviando outras espécies ameaçadas pela caça ilegal na região. Há alguns anos animais como capivaras, tatus, pombas e até os veados eram os alvos dos caçadores. Atualmente, quem passa pelo rio Bauru ao final da tarde percebe, por exemplo, a presença das capivaras.

Conforme a polícia, a maioria dos pássaros apreendidos é direcionada ao tráfico. Cidades como Macatuba e Cafelândia são as que mais registram crimes envolvendo a fauna. Bauru e Iacanga, assim como Lins, Jaú e Pederneiras, também aparecem no ranking das cidades que mais se destacam em relação a esses tipos de delitos.

Há 15 anos atuando no comércio legal de pássaros exóticos na cidade, Luiz Carlos Ribeiro Roja conta que já viu de tudo por aqui. “O comércio negro que envolve esses animais é uma tristeza para nós que pensamos no bem-estar dos passarinhos”, afirma.

Segundo ele, espécies como canário-da-terra, curió, azulão e pixarro ou trinca-ferro acabam sendo os mais prejudicados pelo comércio negro. “Alguns pássaros dessas espécies chegam a custar R$ 5 mil, R$ 10 mil ou até R$ 100 mil, dependendo do canto. Esse pessoal acaba tirando os pássaros da natureza e criando filhotes para fazer essa transferência ilegal”, afirma o lojista.


Armas apreendidas


Outro número que chamou a atenção para os dados divulgados pela Polícia Militar Ambiental é o de armas apreendidas em 2011 em comparação ao ano passado. De 63, o número de ocorrências dobrou neste ano, chegando a 126. Para o capitão Nilson Fidélis, as estátisticas fazem referência à intensificação do policiamento rural nas operações feitas pela polícia para coibir a caça ilegal de animais e a própria violência no campo.

“90% das armas que apreendemos em propriedades rurais são voltadas para caça. Quanto maior o cano da arma, mais preciso será o tiro. Trabalhamos para evitar tragédias”, afirma o capitão.



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Denúncia e fiscalização rigorosa inibem crimes


De acordo com o capitão da Polícia Militar Ambiental Nelson Fidélis, o mundo do tráfico de animais só perde para o tráfico de armas e drogas. “Esse mercado chega a girar em torno de US$ 10 bilhões por ano no mundo. No Brasil, temos uma rota do tráfico que vem do norte e nordeste para o sul e sudeste e temos outra grande rota que faz o retorno, vai do sul e sudeste para o nordeste. Geralmente, as aves são colocadas em fundos falsos de malas ou em canos de PVC. Eles colocam seis, e se conseguirem vender 10 já é o suficiente para tirarem um bom lucro”, afirma Fidélis.

Para ele, o aumento no número de infrações ambientais envolvendo a fauna, principalmente os pássaros, se deve à conscientização da própria população frente às denúncias. Ele afirma que a polícia ambiental tem intensificado suas ações de fiscalização e realizado flagrantes com a ajuda da população. “Temos novos sistemas de informação que ajudam na comunicação dessas denúncias, que hoje chegam de uma maneira muito rápida para nós”, enfatiza.

Após a criminalização da caça e a intensificação das fiscalizações sobre as posses de arma, a promessa para o comércio ilegal é de diminuição. Segundo a Polícia Militar Ambiental, o valor das infrações também ajuda a inibir os crimes. “A pessoa precisa responder pelos delitos no campo civil, administrativo e penal”, diz o capitão. 
jcnet

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