terça-feira, 21 de agosto de 2012

Há quase 50 anos, idoso cuida do único cemitério de passarinhos do Brasil

Theóphilo de Souza, de 89 anos, é o responsável pela manutenção do cemitério dos pássaros, em Paquetá. Foto: George Magaraia
Um passarinho desenhado em uma placa localizada na entrada dá o aviso: “Estou cantando para alegrar meus companheiros”. E, de fato, é assim. O silêncio predominante só é quebrado pelo canto dos pássaros que entoam notas como se estivessem prestando uma homenagem aos amigos que já se foram. O local em questão é o cemitério dos pássaros, o único do Brasil, situado na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.
Com 24 pequenas covas, que possuem aproximadamente o tamanho de uma caixa de sapatos, o espaço parece uma reprodução em miniatura do cemitério humano que fica ao lado. Com algumas adaptações, é claro. As cerimônias religiosas no sepultamento são trocadas por orações pessoais. Também saem de cena os anjinhos e santos barrocos e, no lugar, entram as esculturas “O pássaro abatido” e “O pouso do pássaro cansado”.
Completa o cenário um mural com trechos de poemas brasileiros que falam sobre aves. “A canção do exílio”, de Gonçalves Dias, é um deles. “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”, ilustra o painel poético inaugurado no ano passado.

Placa na entrada do cemitério dá o tom existente no local. Só se ouve o canto dos pássaros. Foto: George Magaraia
O cemitério de pássaros foi concebido por Pedro Bruno e Augusto Silva, dois artistas plásticos nascidos em Paquetá, ilha localizada na Baía de Guanabara. A data de criação do espaço ninguém sabe ao certo, mas, desde a década de 60, ele é cuidado pelo aposentado Theóphilo de Souza, de 89 anos.
Nessa época, o local estava abandonado e descaracterizado, sendo utilizado como depósito de ferramentas. Funcionário público, o idoso recebeu a permissão do então governador Carlos Lacerda para construir sua casa nos fundos. Vizinhos ao espaço, Theóphilo e sua esposa, já falecida, decidiram, então, reativá-lo com seus próprios recursos.
De acordo com o aposentado, pessoas de diversas lugares vêm enterrar suas aves de estimação. Em 2010, uma mulher da cidade de Sete Corações (MG) levou um papagaio em uma caixinha. Em outra ocasião, uma mulher foi ao cemitério para jogar as cinzas… de seu pai! “Antes de ir para o hospital, ele disse ao amigo que queria ter as cinzas jogadas aqui. Achei estranho, né? Mas a vontade dele foi feita”, relembra, bem humorado, Theóphilo.
Aos interessados em dar um fim, digamos, digno aos seus pássaros de estimação, é bom saber que os enterros no local são gratuitos. Mesmo com a idade avançada, o aposentado diz fazer questão de ajudar no sepultamento, se estiver em casa. Atualmente, cerca de dez covas estão vazias e não há exumação do corpo. “A terra consome logo. Você enterra o passarinho e, daqui a um mês não tem mais nada. Só a pena”.
Fonte: Último Segundo
Nota da Redação: É necessário lembrar que a maioria dos pássaros enterrados nesse cemitério teve uma vida de prisão, de privação de liberdade e isolamento da Natureza, pelo “crime” de terem nascido pássaros e bonitos aos olhos daqueles que os trataram como objetos de decoração. Cada um deles trouxe uma história de tristeza, solidão e aprisionamento e morreu sem ter conhecido a liberdade de voar pelo mundo, sentir integralmente a luz e calor do Sol bater em suas penas, tal como foram “designados” pela Natureza.
fonte: anda

Nenhum comentário:

Postar um comentário

verdade na expressão