sábado, 18 de agosto de 2012

Táticas de ação direta do ativismo animal esvaziam laboratórios de experimentação animal


Jonathan White, junto de outros três ativistas, hostilizam vivisseccionistas em protesto. Foto: Reprodução
Os portões duplos, cobertos com pregos e arame cortante, fariam justiça a uma prisão. O portão exterior se abre, você entra, e seu carro é analisado por câmeras de vigilância. Em seguida, o segundo portão desliza para o lado e você passa para o terreno principal.
Rolos de arame farpado sobre altas cercas metálicas delimitam seu perímetro. É um esquema de segurança impressionante e formidável, mas não inesperado –porque este é um dos Laboratórios Harlan, em Blackthorn, Oxfordshire, onde vivem 52 mil ratos e camundongos destinados ao uso em experiências médicas, e alvo de uma persistente campanha de intimidação por parte de ativistas dos direitos dos animais.
Na semana passada, um desses ativistas, Luke Steele, foi condenado a 18 meses de prisão por intimidar funcionários dos Laboratórios Harlan. Outro ativista, Jonathan White, recebeu uma sentença de sete meses, mas que foi suspensa por 18 meses.
Os dois réus, ambos com 22 anos, eram membros de um pequeno grupo que no ano passado aterrorizou funcionários do Harlan em três lugares do Reino Unido, usando megafones para gritar “que vergonha”, “sangue nas suas mãos” e “assassinos de filhotes” contra profissionais que faziam fila nos seus carros para entrar ou sair dos seus locais de trabalho. Eles também afirmavam que os animais nos centros de pesquisa eram alvo de uma “terrível negligência”.
Uma funcionária do Harlan disse ao “Observer”: “Quando você chegava de manhã, tinha de fazer fila por até cinco minutos para passar pelos portões. Os megafones eram ensurdecedores. Eles gritavam que você era uma assassina de filhotes, e balançavam seu carro. Era horrível. Eu ficava tremendo durante horas”.
Um colega dela ficou igualmente afetado: “É parte da metodologia deles equiparar o trabalho com animais à pedofilia. Se eles descobrem seu nome, você aparece no site deles como pedófilo. É nojento”. Outro funcionário do Harlan descobriu que todos os seus vizinhos receberam bilhetes taxando-o de estuprador.
Tal intimidação se tornou uma arma frequente para ativistas. Os funcionários do Harlan se mantêm resolutos, mas em outros lugares do Reino Unido a criação de animais em laboratório foi duramente afetada. Em 1981, havia no país 34 empresas criando animais para laboratórios. Hoje são apenas três, por causa da intimidação dos ativistas sobre os funcionários e sobre as empresas que prestam serviços e fornecem produtos aos laboratórios.
“Parte da redução geral no número de empresas envolve a consolidação do setor, mas não há dúvida de que a intimidação levou ao fechamento de muitas outras companhias”, diz Andy Cunningham, gerente do Harlan.
“No entanto, a legislação da União Europeia exige atualmente que usemos cada vez mais animais para testes de toxicidade, enquanto os cientistas estão fazendo cada vez mais descobertas fundamentais que requerem animais para pesquisa. Precisamos ter animais se quisermos desenvolver novos medicamentos para o mal de Alzheimer e as doenças cardíacas, e para testar produtos utilizados pela população.”

Obsessão por limpeza
A alegação de que os animais são tratados com “terrível negligência” nas instalações do Harlan não foi confirmada na recente visita do “Observer”.
Para entrar na unidade de Blackthorn, funcionários e visitantes precisam tirar todas as suas roupas e joias, tomar banho e então vestir trajes esterilizados, redes nos cabelos, máscaras e luvas, tudo coberto por gel antibacteriano, para evitar a difusão de agentes patogênicos transportados por humanos. A ânsia por manter a limpeza é obsessiva.
Ratos e camundongos são mantidos em gaiolas sobre prateleiras, que são limpas semanalmente e constantemente abastecidas com água fresca. Todo animal que eu vi parecia saudável e bem cuidado.
“As condições são boas para os animais, mas não necessariamente para os funcionários”, admite Cunningham. “Você não pode usar joias, ter piercing ou entrar com celular. Você precisa fazer uma jornada de oito horas com luvas e máscaras faciais o tempo todo. Até conversas simples se tornam difíceis. E, quando você vai para casa, não pode domesticar animais como porquinhos-da-índia ou coelhos, para [evitar] o caso de você pegar um vírus e trazê-lo.”
Nessas condições, é complicado recrutar novos funcionários. As ondas de intimidação e assédio pelos ativistas pioram as coisas. Apesar disso, os funcionários constantemente salientam sua “dedicação” e “amor pelos animais”, e os ratos têm um claro “favoritismo” sobre os camundongos. “Os ratos têm caráter”, disse Val Summers, gerente da empresa. “Quando você entra na sala deles, eles fazem fila para olhar para você. Eles são vivazes e curiosos.”
Muitas linhagens diferentes de ratos e camundongos são criadas em Blackthorn: algumas para resultarem em animais diabéticos, outras para os animais ficarem obesos, por exemplo. Uma linhagem de ratos, a SHR, é criada para ter hipertensão.
“Colocamos um manguito em torno do rabo de cada animal e medimos sua pressão”, disse Cunningham. “Os machos com hipertensão arterial são acasalados com as fêmeas com hipertensão arterial.” A hipertensa prole resultante é então vendida a pesquisadores para que testem novos tratamentos para a pressão arterial.
Ao todo, cerca de 6.000 ratos e camundongos são despachados do Harlan a cada semana. Os clientes incluem laboratórios farmacêuticos como o GlaxoSmithKline, e centros universitários como o University College e o King’s College, ambos em Londres.
“Usamos ratos e camundongos para diversos propósitos”, afirmou Roger Morris, chefe do departamento de Biociências do King’s College. “Por exemplo, usamos linhagens como os ratos hipertensos SHR para testar potenciais novos tratamentos contra a hipertensão arterial.”
“Não é possível usar culturas de tecidos para tal trabalho. É preciso testar as substâncias químicas em um animal vivo inteiro, para descobrirmos qualquer efeito colateral inesperado em diferentes órgãos. Camundongos e ratos são muito parecidos com os humanos em termos fisiológicos e, portanto, são muito úteis. Se não testássemos drogas em ratos e camundongos, haveria muito mais gente morta. Simples assim.”
Também é crucial que os cientistas tenham um suprimento de animais de laboratório saudáveis, acrescentou Morris.
“Dependemos agora dos três últimos grandes criadores do Reino Unido. Podemos nos virar com isso, mas se perdermos mais um vamos ficar numa situação muito desconfortável.”

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