segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Características dos crânios dos animais aliam forma e função

Uma caixa craniana pode ser uma estrutura sólida e bem projectada, mas será suficientemente robusta para proteger um pica-pau de terríveis dores de cabeça? E o que dizer de carneiros e alces que trocam marradas ferozes? Como é que os seus cérebros aguentam?

Algumas respostas estão no segundo andar de um sobrado residencial nos arredores de Coventry, em Inglaterra. É lá que Alan Dudley passou as últimas quatro décadas debruçado sobre uma curiosa obsessão: o estudo de crânios, actividade cheia de pistas sobre como os animais se comportam.
A pesquisa é um hobby. Dudley trabalha escolhendo revestimentos para serem colados nos painéis de automóveis caros. Após o expediente, dedica-se ao estudo.
A sua colecção vai de um crânio de passarinho a um de hipopótamo, passando por muitas criaturas que fazem coisas violentas com as suas cabeças, incluindo o carneiro e o pica-pau. Esses dois animais têm crânios densos, especialmente na parte de trás, e as suas caixas cranianas são construídas como um carro blindado e excepcionalmente lisas por dentro.
Os cérebros da maioria dos animais propensos a baterem as cabeças, o que inclui gazelas e outros animais com chifres, além de várias aves, são relativamente pequenos e, ao contrário do cérebro humano, têm superfícies lisas. Eles são também banhados por quantidades pequenas de líquido cefalorraquiano, deixando pouco espaço para que o cérebro se desloque e seja lesionado por repentinas acelerações e desacelerações da cabeça.
Além disso, carneiros e pica-paus são cuidadosos na forma precisa com que batem a cabeça nas coisas, sejam árvores ou outros animais. Com isso, há pouca torção de um lado para outro, que é o tipo de movimento que provoca o chamado «efeito chicote» na coluna cervical, entre outras lesões.
Algo semelhante acontece com o ganso-patola. Essa ave marinha branca e preta, com até dois metros de envergadura, apanha peixes com mergulhos espectaculares. Começando a 30 metros de altura ou mais, ele entra na água a 80 km/h, e vai até bem abaixo da superfície, sempre a perseguir o peixe escolhido e usando as asas para nadar, como fazem os pinguins.
Para amenizar o traumatismo craniano de uma colisão a 80 km/h contra uma parede de água, bolsas de ar no rosto do ganso-patola servem de almofada. Além disso, ele não tem narinas que possam ser invadidas pela água, o que causaria danos aos delicados tecidos internos.
O crânio de um ganso-patola é forte, delicado, sem furos e capaz de se inclinar para baixo no pouso, mas de se manter recto ao passar em grande velocidade pela água.
Alguns crânios são estreitos e delicados como os das gazelas, outros, como os dos leões, são atarracados, gordos e fortes. Enquanto a gazela pasta e passeia com elegância, o leão fica parado e espera a hipótese de esmagar e matar a presa.
Invariavelmente, uma fusão entre forma e função é exibida com perfeição no crânio de um animal. Compare as enormes mandíbulas de um lobo, por exemplo, com o arranjo mais modesto na boca de uma lebre.
As protuberâncias no alto dos crânios de algumas espécies também dizem muita coisa. A onça parda, por exemplo, tem uma espécie de vela de navio, chamada de crista sagital, à qual estão presos os músculos da sua mandíbula. Isso lhe dá uma mordidela ainda mais esmagadora.

Estruturas chamadas bulas timpânicas podem mostrar, pelos ossos, se um animal escuta bem ou não. Coelhos e lebres saltadoras têm bulas timpânicas enormes. Dizem que as câmaras cercadas por tais cavidades ressoam perfeitamente diante do som produzido por uma coruja em voo vertical para baixo, alertando o animal para fugir
fonte: diariodigital.sapo.pt

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