quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Na República Democrática do Congo, o Capitalismo usa e abusa de animais



Por João Pedro Santos
A Economia devia ter o nobre propósito de servir as populações e suprir as suas necessidades, mas tem-se revelado um poderoso aliado dos mercenários económicos que sabem manipular o sistema e aproveitar-se das suas falhas. Assim surgiu o Capitalismo, que teima em quantificar e em vender tudo o que nos cerca.
Na República Democrática do Congo (RDC), o Capitalismo usa e abusa de animais e seres humanos. Os gorilas da montanha sempre foram a atração principal do parque natural de Virunga, mas recentemente passaram a ser usados pela guerrilha congolesa M23 que descobriu no turismo da natureza uma fonte bastante viável na obtenção de fundos para financiar a sua guerra contra o Governo Congolês1.
O grupo rebelde congolês M23 é acusado de mortes, violações em massa e outras atrocidades pela associação Human Rights Watch2 e encontrou na ocupação de parte do parque natural de Virunga uma estratégia eficaz para desenvolver a sua economia revolucionária. A guerrilha M23 aplica preços mais baixos do que o mercado turístico legal, o que lhes garante à partida logo uma vantagem comercial que não se perde mesmo quando os turistas descobrem que se tratam de visitas organizadas por guerrilheiros com armas a tiracolo. Por outro lado, a concorrência natural dos guias do parque foi anulada, porque o Governo Congolês deixou de considerar seguras as visitas feitas pelos turistas ao parque, pelo que neste momento todo o parque natural e respetivos recursos naturais estão por conta da guerrilha. Alguns guias do parque inclusivamente passaram a trabalhar para a guerrilha, certamente pela oferta de uma margem de lucro maior ou por ameaça pendente da guerrilha.
Se neste momento os gorilas aparentam ser vistos como uma fonte de rendimento e aparentemente não são feridos ou mortos, o parque natural de Virunga, que é o mais antigo e com mais diversidade natural em África, tem pago bastante caro pelos conflitos armados ao longo dos últimos 25 anos, com muitos mamíferos de grande porte mortos pelo caminho. Começando pela queda política de Mobutu Sese Seko nos anos 80, passando pelo genocídio ruandês (vizinho do Congo) e guerras no Congo e terminando no conflito de Kivu de 2004 a 2009, toda a ação militar tem passado à volta ou dentro do parque natural.
Por outro lado, desde 1996, a exploração de 4 minérios (tântalo, tungsténio, estanho e ouro)na RDC tem sustentado a indústria mundial dos telemóveis, câmaras fotográficas e outra parafernália eletrónica, mas num formato esclavagista humano, onde os verdadeiros beneficiários têm sido as milícias militares que sustentam um dos conflitos mais sangrentos do planeta, após a Segunda Guerra Mundial3.
A associação americana de direitos humanos Enough Project indica que só em 2009 os grupos armados do Congo receberam 146 milhões de euros de lucro destes 4 minérios que se têm revelado essenciais na tecnologia dos gadgets que invadem as montras por todo o mundo. Com este dinheiro, os grupos armados garantem a manutenção da guerra, a aquisição bélica e o pagamento aos soldados.
Se por um lado, as associações não governamentais tentam convencer as grandes empresas tecnológicas a optarem por fontes certificadas destes minérios, por outro lado a competição comercial dos minérios não certificados é imbatível nos preços, em comparação com as fontes minerais certificadas.
O saldo da extração de minérios na RDC é arrasadora: nos últimos 15 anos, os confrontos mataram 5,5 milhões de pessoas e mais de 200 mil mulheres foram violadas, segundo dados da associação International Rescue Committee. A guerra na RDC terminou em 2003, mas a luta pelo domínio das reservas minerais do país ainda persiste entre os grupos armados.
Analisando estas duas realidades económicas na RDC, podemos vislumbrar claramente um padrão de exploração, abuso e violência, seladas por um vínculo comercial que vai perpetuando estas injustiças, quer em animais quer em humanos.
Apesar da distância que nos separa da RDC, temos de ter consciência do poder que nos assiste, quer político quer económico, em participar na mudança do atual paradigma vivido da RDC, baseando-nos num consumismo ético informado (consultar e usar o ranking de empresas que usam estes minérios4), a par de um ativismo ativo lançado ao governo congolês e às empresas envolvidas nesta situação e com a qual não estamos dispostos a compactuar.
Ajudem, realizando o primeiro passo para mudar este cenário, assinando e passando as petições pelas vítimas congolesas:
O segundo passo passa por escrever para a Embaixada da RDC em Londres para os pressionar politicamente a agirem na mudança destas realidades:
Congolese (Dem) Embassy in London, the United Kingdom
45-49 Great Portland Street
London W1W 7LT
United Kingdom
ou por email: missiondrclondres@gmail.com / info@ambardc-londres.gov.cd
O terceiro passo passa por escrever para a sua empresa de telemóvel, máquina fotográfica ou câmara de vídeo e apelar/pressionar a que usem apenas minério certificado nas suas fábricas.
Fonte: Esquerda.Net

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