sexta-feira, 3 de maio de 2013

Caça mata último rinoceronte de Moçambique, diz chefe de reserva



Foto: AP
Dono de reserva na África do Sul descobre o corpo de um rinoceronte fêmea e seu filhote mortos. Em Moçambique, a espécie está praticamente extinta. (Foto: AP)
A população de rinocerontes em Moçambique foi dizimada há mais de um século pela caça. Recomposta anos atrás, os animais estão mais uma vez perto da extinção no país, por causa do aumento da caça motivada pela procura de seus chifres na Ásia.
Um especialista disse à AP que o último rinoceronte do país africano já foi morto. O diretor do Parque Transnacional do Grande Limpopo – o único local onde os animais viviam em Moçambique — também afirmou que os responsáveis pelo fim da espécie são os caçadores. Já o diretor do departamento de Conservação do governo moçambicano acredita que ainda restem alguns poucos animais da espécie no país.
Elefantes também estão em perigo, segundo Antonio Abacar, chefe da reserva de Limpopo. Seus guardas florestais estariam ajudando os caçadores, e 30 dos 100 funcionários vão prestar depoimento às autoridades em breve.
“Pegamos alguns em flagrante, enquanto guiavam os caçadores por uma área de rinocerontes”, disse.
Um guarda florestal preso por cooperar com caçadores na reserva de Niassa, no norte do país, afirmou à TV moçambicana que recebia 2500 meticais (cerca de R$ 160) para guiar os caçadores a regiões onde vivem elefantes e rinocerontes. O salário médio de uma guarda florestal é entre 2000 a 3000 meticais (R$ 128 a R$ 192) por mês.
Os guardas vão perder seus empregos, mas as consequências jurídicas são mínimas: segundo a lei moçambicana, matar animais selvagem e tráfico de chifres de rinocerontes e presas de elefantes são considerados delitos leves.
“O sistema legal de Moçambique está longe de ser adequado, e uma pessoa que é considerada culpada só recebe uma punição leve e é obrigada a devolver o chifre”, reclama Michael H. Knight, coordenador do Grupo especializado em rinocerontes africanos da Comissão de Sobrevivência da União Internacional para a Conservação das Espécies.
Uma reunião do grupo em fevereiro alertou para a possibilidade de haver um único rinoceronte branco em todo o Moçambique e nenhum rinoceronte negro, explicou Knight.
Já Abacar foi mais incisivo: “Já declaramos a extinção dos rinocerontes no Parque Limpopo”.
Mas Bartolomeu Soto, diretor da unidade de conservação transfronteira de Moçambique, nega a exinção: “Acredito que ainda temos rinocerontes, embora não saiba dizer quantos”.
Segundo a mídia moçambicana, os últimos 15 rinocerontes de Limpopo foram mortos no mês passado, mas oficiais do parque negam esta informação. Soto diz que o engano veio da declaração de Abacar a jornalistas sobre não ter visto um rinoceronte nos três meses desde que começou a chefiar o parque.
O único número oficial para mortes de rinocerontes é o de 17 carcaças encontradas no parque em 2010, segundo Soto. Ele disse que a caça está acontecendo porque chifres e presas são frequentemente apreendidos nas fronteiras de Moçambique, embora parte do contrabando pode vir de animais mortos em países vizinhos, como a África do Sul. Esta semana um único traficante foi preso no aeroporto de Maputo com nove chifres.
O preço de chifres de rinocerontes supera o de metais preciosos como ouro e platina, por causa da demanda de países asiáticos, em especial China e Vietnã. Ele é considerado um poderoso remédio, apesar de ser feito de queratina, a mesma substância das unhas do ser humano. A medicina tradicional chinesa receita o chifre para uma gama de doenças que vai desde febres infantis e artrite a envenenamento e possessões demoníacas.
Knight explica que rinocerontes já foram dizimados em Moçambique no início do século passado, quando os animais também praticamente desapareceram da África do Sul, que hoje aloja 90% dos animais no continente africano.
Em 2002, os líderes de Moçambique, África do Sul e Zimbabwe concordaram em criar um parque transnacional em suas regiões fronteiriças, combinando 35 mil quilômetros quadrados de reservas estabelecidas como Parque Nacional Kruger, da África do Sul e o Gonarezhou, do Zimbabwe. O financiamento veio de várias organizações internacionais e da União Europeia.
Cerca de cinco mil animais foram transferidos da África do Sul para Moçambique, inclusive a primeira dúzia de rinocerontes em solo moçambicano em um século.
Mas em 2006, a África do Sul removeu 50 quilômetros de cercas entre o Kruger e o Limpopo, e a ideia era incluir mais dois outros parques moçambicanos, fazendo com que a reserva transnacional chegasse a mais de 100 mil quilômetros quadrados.
Estes planos estão ameaçados, bem como o parque Limpopo. Segundo Knight, há renegociações para reconstruir a cerca entre o parque e a África do Sul, porque os sul-africanos alegam ter perdido 273 rinocerontes somente este ano para a caça, e a maior parte foi morta por caçadores moçambicanos. Em 2012, caçadores mataram 668 rinocerontes.
A matança continua, com o número de animais mortos em ascensão, mesmo com a África do Sul apertando o cerco aos caçadores, usando soldados e forças policiais em todo o Kruger, um parque do tamanho de Israel.
Soto afirmou que o governo moçambicano está trabalhando desde 2009 em uma reforma das leis ambientais, que deve chegar ao parlamento em breve. Ela incluirá a criminalização da morte de animais selvagens e quer impor penas mais duras aos criminosos.
Mas até lá já será tarde demais para os rinocerontes de Moçambique.

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