segunda-feira, 13 de maio de 2013

Idoso vende casa para cuidar de 230 animais em São Carlos (SP)



O aposentado Enio Malaquini dedica atenção especial aos animais há 29 anos (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
O aposentado Enio Malaquini dedica atenção especial aos animais há 29 anos (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
“Eu sempre tive dó dos animais, porque eles são humildes e sofrem calados, diferente das pessoas”. É com essa explicação que o aposentado Enio Malaquini, de 76 anos, define o amor que tem pelos 230 animais que ele e a mulher cuidam em uma chácara de sete mil metros quadrados em São Carlos (SP). São aproximadamente 80 cães e 150 gatos, cada um deles com uma história de abandono diferente. A dedicação do idoso é tão grande que ele usou R$ 60 mil que recebeu de seguro, após perder a visão do olho direito, e outros R$ 60 mil da venda de um imóvel para cumprir sua missão que começou 29 anos atrás.
“Eu pensei que esse dinheiro iria render com os juros, mas todo mês eu tinha que tirar um pouco para completar o valor que eu gastava para atender às necessidades dos animais, então acabou. A casa que recebi de herança da minha filha que morreu vendi por R$ 60 mil e fiz a mesma coisa. O dinheiro acabou em dezembro último, então a dificuldade agora está triplicada”, contou o idoso.
Malaquini é aposentado, mas ainda trabalha como vendedor de caixas de papelão para complementar a renda. O cuidado com os bichos começou durante as viagens que ele fez por várias regiões do país. Quando encontrava algum animal atropelado, ele colocava no carro e levava a um veterinário para tentar salvar mais uma vida.
“Isso foi aumentando e com o tempo eu passei a pegar os animais que encontrava abandonados na rua. Se percebia que não tinha tutor, estava magro, judiado, eu levava para casa. Uma vez peguei um que estava com tanta sarna, só a pelanca, em estado degradante. Depois que vi aquilo, decidi que não deixaria mais nenhum animal chegar àquele ponto”, relatou.
Desde então, o número de animais que chega à chácara do aposentado, no Jardim Tangará, não para de crescer. “O pessoal sabe que eu cuido, então joga animal direto aqui dentro. Se o bicho fica doente, vem para cá. O tutor quer viajar, deixa na porta. Fim de ano então é de monte”, disse Malaquini. Segundo ele, o local já chegou a abrigar 300 bichos. Os animais estão disponíveis para adoção, mas poucas pessoas aparecem por lá para levá-los para casa.
O aposentado relatou que durante 25 anos ele e a mulher cuidaram dos bichos praticamente sozinhos. Há três anos, uma ONG da cidade, a Cachorro Ajuda, passou a auxiliar da maneira que pode, cedendo um pouco de ração. Ainda assim os gastos são pesados para o aposentado. Por mês, ele compra 15 sacos de 25 quilos de alimento para gatos e 30 sacos de 15 quilos para os cães. Ele calcula que só de alimentação gasta cerca de R$ 1,5 mil, dinheiro que ganha com a venda de caixas de papelão e da aposentadoria que recebe, um salário de R$ 678.
“Às vezes, me ligam dizendo que alguém deixou um pacote pago no comércio. Eu peço o telefone da pessoa e ligo para agradecer porque ninguém tem a obrigação de arcar com a minha responsabilidade. Tem uma fábrica de pizza que também me ajuda. Mas ainda tem remédios, veterinário. Tenho um conhecido que não cobra a consulta, só quando precisa de um procedimento mais sério, mas é um preço justo”, disse.
Todos os cães e gatos mantidos na chácara são castrados e vacinados. Eles também tomam vermífugos quando o aposentado percebe que há algo errado. “Todo esse tempo lidando com os bichos, minha mulher e eu já pegamos certa prática para diagnosticar quando algum não está bem”, relatou.
Improviso
Tanto o canil, quanto o gatil improvisados foram construídos pelo casal com materiais que seriam descartados em ferro-velho. Malaquini disse que a família está acostumada a aproveitar o que os outros acham que não tem mais serventia.
O aposentado explicou que ao chegar à chácara, o cão fica sozinho em um espaço durante um período para que os demais o vejam. “Quando todos acostumam e os vejo abanando o rabo, sei que gostaram, então coloco junto e aí não tem briga. Com gato não há problemas, os outros vêm perto e rodeiam o novo morador”, contou.
Rotina
A rotina de Malaquini é pesada. Ele levanta às 5h e já começa a cuidar dos bichos. Leva ao menos três horas para alimentá-los e realizar a limpeza do local que é lavado ao menos três vezes por semana. Os cães tomam banho a cada 15 dias e são tosados também. “Adaptei um espaço no quintal para isso. O pessoal da ONG vem aqui ajudar e a gente tira o sábado ou o domingo para fazer isso, começa cedo e vai até o fim da tarde”, contou.
Apesar da correria, o aposentado disse que não se arrepende de nada e que se sente bem com o que faz. “É gratificante. Minha mulher e eu não gastamos nada com a gente, apenas com alimentação. Não tem luxo, nem vaidade. Acredito em Deus, que me deu essa missão de cuidar dos animais. Eu não me arrependo de nada. Só estou tentando consertar tudo para o dia que alguém assumir o meu lugar encontrar tudo em ordem e manter o bem estar dos animais”, ressaltou.
Fonte: G1

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